quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Resiliência

RESILIÊNCIA

“Capital da empresa hoje: Ser Humano Resiliente"

         A primeira vez que ouvi este termo foi em Agosto de 1998 quando cursava o meu mestrado na área de Psicossomática e Psicologia Hospitalar na PUC- São Paulo com a profa. Dra. Ceres Alves de Araújo.  Percebi logo que se tratava de um fator extremamente importante para este novo século em todas as áreas da vida: pessoal, profissional, da saúde, social, familiar, ambiental, cultural, etc. pois estamos vivendo  momentos de grandes transformações e provas.
Resiliência é a capacidade humana universal de superar as adversidades das experiências da vida, de combater com força e determinação os obstáculos, de tirar proveito das dificuldades para crescer, transformar, ir em frente, atingindo objetivos, metas. É aprender com os obstáculos, “sofrimentos” e danos causados por um acontecimento levando a elaboração em outro nível de consciência.
            Este termo - resiliência é um conceito que vem da física e significa a capacidade de um objeto de recuperar-se, de voltar a se moldar depois de ter sido comprimido, expandido ou dobrado voltando ao seu estado original.
            No dicionário Aurélio define o termo como “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica” (Ferreira, 1986).
            Os estudos pioneiros sobre resiliência foram conduzidos por Rutter, Garmezy e Werner, através de pesquisas longitudinais.
 Rutter (1985) define Resiliência como a capacidade dos indivíduos em emitir uma ação com objetivo definido e com uma estratégia de como alcançá-lo, diante de uma situação de risco. Em 1993 ele alerta para o perigo da utilização deste termo como uma “química do momento”, o fenômeno da resiliência deve ser compreendido pela consideração de fatores anteriores e posteriores às circunstâncias vividas, numa abordagem transacional e longitudinal.
Werner e Smith (1992) referem-se às crianças resilientes, como aquelas que conseguiram enfrentar com sucesso fatores de risco biológicos e sociais.
Garmezy (1996) constrói sua definição a partir da exposição de adultos e crianças a fatores de risco: para alguns, a conseqüência pode ser a doença ou um distúrbio; outros, em muitos momentos podem superar a adversidade e conseguir soluções bem sucedidas. Nestes últimos identifica como resilientes.
Resiliência consiste de um balanço entre tensão (isto é, fatores de risco) e a habilidade de lutar (isto é, fatores de proteção) (Rutter, 1993; Werner, 1989). Os fatores de risco se originam de múltiplos eventos estressantes, ou ainda de um evento traumático, ou de tensões acumuladas a partir de uma variedade de fatores pessoais e do ambiente (Garmezy,1991: Luthar,1991; Ruther,1987). Fatores de proteção amenizam ou reduzem as influências negativas de se aceitar o risco, embora elas também possam atuar independentemente de sua existência. Quando as tensões ou fatores de risco são maiores do que os fatores de proteção, ainda que os indivíduos tenham sido “resilientes” num passado, correm o risco de serem esmagados e subjugados (Garmezy, 1993).
Rutter (1985,1987) define os mecanismos de proteção como fatores ou processos que reduzem o impacto do risco e exercem efeitos positivos na saúde mental do indivíduo. Estes mecanismos podem operar como pontos de apoio para mudanças da trajetória de vida, das situações de risco para uma adaptação bem sucedida.
Existem muitas pesquisas também com sobreviventes do holocausto e a mais recente é de Job Pereira (2001) que nos mostra através dos depoimentos colhidos a importância da autonomia, auto-afirmação, auto-estima, vontade de viver, autocontrole, astúcia, preservação da identidade, iniciativa própria, com a firmeza de resistir à tentação de se despersonalizar, ter boa saúde, criatividade, ter fé, habilidade de interagir, capacidade de trabalhar bem, apurado senso de humor, vontade de viver, protegendo o seu “eu” acima de tudo.
Resiliência é dinâmica e ativa. Acontece não só em situações sérias e traumáticas, mas ao longo do ciclo normal da vida. Assim, em todas as mudanças do ciclo da vida temos que abandonar atitudes anteriores, enfrentar as novas exigências, explorando as dimensões que na vida se faz presente diante de nós. Flach (1988) assinala os pontos de bifurcação que ocorre nessas estruturas homeostáticas durante o ciclo normal da vida: Infância; adolescência; juventude e fase adulta de solteiro; início do casamento; paternidade; meia idade, velhice. Existe uma ruptura, caos, resiliência, reintegração e uma nova estrutura homeostática.
Temos que ser “flexíveis” para fazer estas passagens, e segundo Nelson (1997), existem muitos modos diferentes de se desenvolver resiliência. Esta autora descreve dez habilidades que se forem exercitadas, conduzem a uma maior habilidade de ser resiliente:
1-    Manter o senso de humor e perspectiva; 2- Aprender a lidar com estresse característico das situações de mudança; 3- Permitir-se enfraquecer, recuar, sentir dor, curar e retornar ao estado original; 4- Saber lidar com o ódio; 5- Manter positiva a auto – estima; 6- Ser capaz de visualizar um futuro melhor; 7- Ser criativo; 8- Tornar-se um sobrevivente repleto de recursos; 9- Assumir riscos (ter coragem); 10- Manter a fé.
As características de um indivíduo resiliente segundo Flach (1988) incluem:
* um forte e flexível sentido de auto – estima; * independência de pensamento e ação, sem medo ou relutância em ficar nessa condição de dependência; * habilidade de dar e receber nas relações com os outros; e um bem estabelecido círculo de amigos pessoais, que inclua um ou mais amigos que servem de confidentes; * um alto grau de disciplina pessoal e um sentido de responsabilidade; reconhecimento e desenvolvimento de seus próprios talentos; * mente aberta e receptiva a novas idéias; * disposição para sonhar; * grande variedade de interesses; * apurado senso de humor; * percepção dos próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros, e capacidade de comunicar esses sentimentos de forma adequada; * grande tolerância ao sofrimento; * concentração, um compromisso com a vida, e um contexto filosófico no qual as experiências pessoais possam ser interpretadas com significado e esperança, até mesmo nos momentos mais desalentadores da vida; * criatividade; * um corpo saudável; * independência do espírito (autonomia).
Este autor fala ainda que somos sempre, mais ou menos, um pouco de cada uma destas coisas e é nos períodos de estresse que temos a oportunidade única de desenvolver ou reforçar as qualidades de resiliência, que não são particularmente o nosso ponto forte.
Como podemos ver a resiliência pode e deve ser amplamente difundida em diversas áreas de nossa vida. Nas empresas hoje, mais do que nunca este fenômeno deve ser cultivado, entendido, vivenciado, trabalhado. Vivemos com muitas adversidades, o número de desempregados é brutal, a economia é oscilante, e por isso, algumas empresas não agüentam a crise e sucumbem. Como ser resiliente nesta crise?
      Lowry e Menendez (s.d.) e Conner (1992) dizem que os resilientes no âmbito profissional detem algumas destas características:
1-    Ser positivo: exibe um senso de segurança e auto-confiança que é baseada numa visão de vida desafiante, mas cheia de oportunidades;
2-    Ter meta: Ter uma visão clara do que quer obter;
3-    Ser organizado: controla muitas tarefas simultâneas e as faz com sucesso; reconhece quando pedir ajuda para os outros; planeja cuidadosamente para depois agir;
4-    Empenha-se em mudar e não a se esquivar: sabe quando a mudança é inevitável, necessária ou favorável; usa a criatividade para mudar a situação, improvisa novas abordagens e faz manobras para ganhar vantagem.

Pulley (1997) diz que existem dez maneiras para aumentar a resiliência no âmbito profissional, ou seja, em sua carreira:
1-    Compreenda que “cargo estável” não existe;
2-    Atualize-se sempre sobre a sua profissão;
3-    Desenvolva um “motivo pessoal” para dar significado ao seu trabalho;
4-    Separe quem você é do que você faz;
5-    Cultive um círculo amplo de relacionamentos pessoais e profissionais;
6-    Seja flexível;
7-    Use a criatividade para “quebrar” a rotina;
8-    Reconheça seu poder de escolha;
9-    Faça decisões e as torne em ações apesar da ambigüidade ou incerteza;
10- Examine sua relação com o dinheiro.
 O capital da empresa hoje é ter indivíduos resilientes, pois até mesmo os indivíduos especiais – portadores de uma deficiência são força de trabalho operante, desde que sejam resilientes.
             
            “Uma pérola é uma coisa bonita produzida pelo ferimento da ostra...
            Sem o ferimento, a lesão a pérola nunca teria existido."
                                                                                         Stephen Hoeller
           

RayRibeiro

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